Welington Sabino
Em depoimento à juíza Selma Rosane Santos Arruda, da 7ª Vara Criminal, o empresário Pérsio Domingos Briante , dono da empresa Extra Caminhões envolvida na compra superfaturada de caminhões e máquinas pesadas na gestão Blairo Maggi (PR), disse que à época, em 2009, participou da licitação com a garantia de que sua empresa seria vencedora desde que pagasse de imediato pelo menos R$ 200 mil para outra concorrente desistir do certame. Ele também levantou suspeitas sobre a morte do ex-secretário de Infraestrutura, Vilceu Marchetti, acusado de envolvimento na negociação das propinas. Ele foi assassinado a tiros em julho de 2014, num crime apontado pela Polícia Civil, como passional.
Pérsio refirmou que o ex-secretário Vilceu pediu propina de 10%, algo em torno de R$ 800 mil e teria dito que o dinheiro teria como destino o custeio de campanhas política sem 2010, época em que Blairo foi eleito senador por Mato Grosso e Silval Barbosa (PMDB), então vice-governador, disputou a reeleição e foi eleito governador do Estado. No depoimento encerrado durante audiência de instrução nesta terça-feira (24), o empresário confirmou que sua empresa participou do lote 4 e vendeu ao Estado um total de 95 caminhões. O problema, segundo ele, era a cobrança de propina em torno de 10%.
As audiências continuam nesta quarta, quinta e sexta-feira (25, 26 e 27), sempre a partir das 13h30 para ouvir outras testemunhas no processo que tem 12 réus. Em relação ao ex-secretário Vilceu, houve uma deliberação da juíza para que seja dado baixa. Entre as testemunhas a serem ouvidas está o senador Blairo Maggi. Foram gastos pelo governo do Estado R$ 241 milhões na compra de mais de 700 máquinas e caminhões e ao final constatado um superfaturamento de mais de R$ 44 milhões.
No entanto, ele negou que tenha efetuado o pagamento da propina. Ressaltou ainda que Eder Moraes, à época secretário de Fazenda o aconselhou a não pagar a propina cobrada para ser o vencedor do lote em questão. Nas reuniões de tratativas de “negócios”, Pérsio garante que era sempre representado por alguém, para que as empresas tivessem condição de participar do certame.
Para justificar sua participação no esquema, Pérsio Briante disse que passava por dificuldades financeiras em 2009 e por isso aceitou fazer parte do que se chamou de “alinhamento de preços” e não se opôs à proposta. Ele também alegou que era “perseguido” durante o governo de Silval Barbosa.
Ele revelou que no dia do pregão, recebeu garantia de um dos réus, também proprietário de uma empresa de caminhões, antes da abertura dos envelopes, que sua empresa venceria o 4º lote. Mas em contrapartida, a empresa de Pérsio teria que pagar R$ 200 mil de propina à maior participante da licitação para que ela não vencesse o lote de caminhão.
Ainda de acordo com o empresário, depois de repassar parte dos caminhões adquiridos pelo governo, começaram as cobranças de propina. Segundo ele, isso ocorria em reuniões restritas entre ele o então secretário de Infraestrutura. Primeiro foi cobrado 10% sobre valor total do lote 4, cerca de R$ 800 mil. Conforme o depoimento, Vilceu teria justificado que o montante arrecadado seria para custear despesas da campanha de 2010. Pérsio sustenta que além de não ter pago a propina, também não teria atestado preços maiores que o praticado no mercado em 2009.
Um dos advogados que participaram da audiência nesta terça-feira, um dos advogados chegou a afirmar que o depoimento de Pérsio, primeiro dado à Defaz e depois ao MP não tem coerência. Algumas informações deixaram de ser prestadas na 1ª versão dada ainda à Polícia Civil. O empresário justificou que naquela época se sentia ameaçado e não tinha segurança para prestar os esclarecimentos depois oferecido ao Ministério Público. Pérsio também questionou o advogado. “Onde está Vilceu Marchetti hoje”.
Depois, questionado sobre o motivo de ter questionado o advogado sobre o paradeiro do ex-secretário assassinado em 7 de julho do ano passado na Fazenda Mar Azul, em Santo Antônio do Leverger, ele não respondeu. Disse que estava nervoso e cansado por ser um depoimento difícil e longo. (Colaborou Daniel Santos, da TV Record Cuiabá).