Brasília – Foi tudo combinado. As informações dando conta de que Aloizio Mercadante estava na linha de tiro aborreceram de tal forma o chefe da Casa Civil que a presidente Dilma Rousseff decidiu telefonar para seu padrinho político, Luiz Inácio Lula da Silva, na manhã de quarta-feira, pedindo ajuda. Dilma avisou Lula que divulgaria uma nota oficial para desmentir a notícia de que o ex-presidente não apenas fizera críticas a Mercadante como a havia aconselhado a dar uma ‘chacoalhada’ na articulação política do governo. Motivo: o ministro, capitão do time, tinha ficado muito abatido com os rumores sobre sua perda de poder.
Lula, então, também determinou à sua assessoria que redigisse uma nota. “Eu soube que o Mercadante está cabisbaixo, triste. Desmente aí (as críticas)”, afirmou o ex-presidente, segundo relato de um interlocutor que presenciou a cena, no Instituto Lula, em São Paulo. Não é de hoje, porém, que o ex-presidente dá estocadas no ministro da Casa Civil, definido como um interlocutor sem jogo de cintura no trato com os aliados. “Mas Mercadante está na articulação política do governo? Eu não sabia”, ironizou, na quarta-feira, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Na prática, Dilma vai adotar um novo modelo de coordenação no Palácio do Planalto, na tentativa de melhorar o relacionamento com o PMDB e outros partidos da coalizão, além de evitar novas derrotas no Congresso. Lula, de fato, sugeriu que Mercadante cuidasse apenas da gestão do governo. Em 2004, antes de estourar o escândalo do mensalão, ele adotou a mesma estratégia. Tirou formalmente o então todo poderoso ministro José Dirceu (Casa Civil) da articulação política, mandou o petista se dedicar às questões administrativas e incumbiu Aldo Rebelo (PC do B) de fazer a “ponte” entre o Palácio do Planalto e o Congresso. Não deu certo.
Até mesmo aliados do governo dizem hoje que, por seu perfil centralizador, Mercadante nunca ficará fora da coordenação política, embora o “varejo” das negociações seja feito pelo titular de Relações Institucionais, Pepe Vargas. Agora, porém, Dilma foi convencida por Lula de que o ministro da Defesa, Jaques Wagner, deve ser cada vez mais escalado para missões espinhosas. É Wagner, por exemplo, quem tem tentado acalmar o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), em rota de colisão com o governo desde que apareceu na lista do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, por suspeita de participação no esquema de desvio de recursos da Petrobrás. O ministro da Defesa e o chefe da Casa Civil são hoje os principais nomes do PT para a sucessão de Dilma, em 2018, caso Lula não queira disputar a eleição.
Além de reforçar o poder de Wagner, Dilma também dará mais espaço ao PMDB e aos aliados PSD e PC do B na equipe. Chamará para um “rodízio” de tarefas no Congresso os ministros Eliseu Padilha (Aviação Civil), Gilberto Kassab (Cidades) e Aldo Rebelo (Ciência e Tecnologia). O objetivo do trio será jogar água na fervura da crise política. Lula adotou modelo semelhante, com outros personagens, quando eclodiu o escândalo do mensalão, em 2005.