O cineasta Marcos Prado, que dirigiu Paraísos Artificiais (2004) e produziu Ônibus 174(2002) e Tropa de Elite (2007 e 2010), preparava um documentário sobre Marco Archer Cardoso Moreira, de 53 anos, executado por fuzilamento na Indonésia. Ele conversou com o Estado sobre o projeto.
Como surgiu a ideia para o documentário?
A ideia do documentário veio do próprio Curumim (apelido de Marco Archer). Há dois anos ele esteve na mesma situação, no corredor da morte, para ser executado. O advogado conseguiu que a execução fosse cancelada. Nesse momento de tensão ele falou com um amigo nosso em comum que me procurou perguntando se eu queria fazer um filme sobre ele. Eu resolvi fazer. Mas, ao fazer um filme de uma pessoa que está dentro de um presídio de segurança máxima, você não consegue muitas imagens.
Então eu estava esperando ele sair, eu acreditava que ele iria sair por diversas razões: pressões internacionais relacionadas à penas de morte, o ministro da Justiça da Indonésia que é contra pena de morte, então existiam indícios de esperança de que talvez as leis da Indonésia mudassem. Existiam boatos de que o pedido de clemência feito pela Dilma na Rio + 20 para o presidente anterior iria funcionar, existia um “otimismo diplomático” de estava tudo certo, estava sendo bem negociado. Tinha esse otimismo e eu segui tendo contato com o Marco por dois anos, por telefone, mas para realmente fazer um filme sobre o protagonista você precisa de imagem e eu não tenho essas imagens. Então é um projeto que ainda vai ser analisado, que eu não sei se eu vou fazer.
Você chegou a visitá-lo na prisão?
Fui lá uma vez, em 2014. O segundo pedido de clemência feito pela Dilma não tinha sido respondido, mas ele tinha muita fé que iria sair. O presídio em que ele ficava é moderno e não tem similaridade com as cadeias brasileiras: tem quadra de tênis, sala de ginástica, três igrejas, um mercadinho, uma cozinha. Se o prisioneiro quiser comprar um prato, um frango, algo diferente do que é oferecido pelo na cantina, ele pode. O Curumim jogava tênis todo dia, estava com a pele bronzeada, tinha várias horas em que não precisava ficar trancafiado. A saúde dele, tanto mental quanto física, estava em boas condições. E ele tinha essa esperança, essa certeza na verdade, que a coisa ia se reverter para o lado dele.
Quando isso mudou?
Depois que saíram as notícias nos jornais do mundo inteiro dizendo que o presidente ia executar seis prisioneiro e seu nome estava na lista, no início de janeiro, Marco ficou com sentimento dúbio. Acreditava numa saída diplomática mas mudou completamente, óbvio. Ele estava tenso. Eu falei: “Curumim, se precisar, faz um pedido de clemência, vamos gravar, explicando os motivos para sair daí, porque se as coisas não andarem conforme o que você espera, vamos fazer de outra forma”. E ele gravou aquele vídeo (que circulou no Youtube essa semana) para tentar de alguma forma reverter o que estava acontecendo.
O que ele queria mostrar nesse documentário? Qual era o principal objetivo dele?
Ele me falou que não queria ser lembrado como o primeiro brasileiro executado da história do País, que estava arrependido, que queria falar aos jovens que não cometessem essa burrice. Ele já estava nessa prisão há 11 anos, já tinha sido duro demais. Já a minha motivação para fazer esse filme era contar uma história de volta por cima, e não o roteiro trágico do anti-herói. Queria acompanhá-lo quando ele retornasse, seguir vendo o seu cotidiano dele, se realmente ia retomar a rotina. Essa era a ideia do projeto. Agora ,com a execução, talvez existem outros temas que valham a pena ser explorados. O ideal seria esse, era o meu ideal. Eu realmente comecei a acreditar acho que o Curumim sai dessa. Mas infelizmente não aconteceu.