Elayne Mendes/A Gazeta
Após mais de um ano do anúncio do secretário de Saúde do Estado, Jorge Lafetá, de que os transplantes de rins voltariam a ser realizados em Mato Grosso, a Coordenadoria de Transplantes informa que ainda não há data definida para a retomada de tal procedimento. Enquanto isso, 1,9 mil pacientes em Terapia Renal Substitutiva aguardam para serem avaliados e saber se deverão ou não passar pelo transplante.
Estes reclamam de como acontece a sistematização do tratamento e acreditam que os problemas seriam resolvidos caso a cirurgia fosse realizada no estado. Em 2008 foram feitos os últimos transplantes de rim em Mato Grosso de acordo com a Associação Brasileira de Transplante de Órgão (ABTO), do Ministério da Saúde.
O médico nefrologista Osvaldo Cassemiro Rabel explica que existem duas situações em que o paciente deve passar por um transplante. Primeiro, quando se trata de um paciente na “boca da diálise”, que é logo que descobre a insuficiência renal crônica o paciente encontra um doador compatível e prefere realizar o transplante. Segundo é quando o paciente já passa pela diálise e mesmo assim opta pelo processo cirúrgico.
“Há técnicas e equipamentos cada vez mais avançados, que permitem aos pacientes que preferem não realizar o transplante ter uma vida longínqua, seguindo, é claro, uma boa dieta e todas as recomendações médicas”.
Rabel acrescenta que o ideal mesmo é ter os dois rins e estes em perfeito funcionamento.
Em se tratando da realização de transplante em Mato Grosso, o médico ressalta que seria de extrema importância que tal procedimento fosse realizado no local onde o paciente reside. “Nesse momento a participação da família faz toda a diferença. E acredito que manter essas cirurgias em outros estados acaba saindo mais caro, tanto para os pacientes, como para o próprio governo, que gasta milhões anualmente com passagens”.
A Coordenadoria de Transplante informou que para a reestruturação do programa de transplantes de rim no Estado são necessárias, além da manifestação de interesse de uma instituição hospitalar com perfil, a habilitação e autorização desse serviço junto ao Sistema Único de Saúde do Município, Estado e Governo Federal.
Afirmou ainda que a etapa nas esferas municipal e estadual foi concluída com a aprovação da solicitação pela Comissão Intergestores Bipartite (CIB) no início deste mês, e foi encaminhada a documentação ao Sistema Nacional de Transplantes-SNT/MS para a conclusão e publicação da portaria de autorização do estabelecimento e equipe especializada para transplante renal, que só então poderá iniciar as atividades.
Segundo o presidente da Associação dos Pacientes Renais e Transplantados do Estado (Apret), Edson Conceição de Campos Moraes, há quatro meses a Coordenadoria de Transplantes informou que o projeto de reativação do procedimento já estava sendo finalizado e até o final do ano os transplantes voltariam a acontecer.
“Mas, infelizmente, percebemos que as coisas não aconteceram como o prometido. E nós que dependemos do tratamento só temos a lamentar, por que não é por falta de cobrança que os transplantes não voltaram a ser realizados aqui”.
Moraes conta que não é apenas o transplante o problema enfrentado pelos pacientes renais. Ele fala que até o tratamento está sendo prejudicado por causa da má administração da saúde pelo governo.
“Constantemente faltam os medicamentos para os que passam pela hemodiálise e também para os já transplantados. Existem casos em que o paciente teve uma melhora e estava se tratando somente via medicamentos, mas por causa da escassez destes acabou voltando para a máquina”.
Nesse ponto a dona de casa Adima Maria Bonfim, 37, concorda com Moraes. Passando pelo tratamento de hemodiálise há cinco anos, ela fala que já ficou sem o medicamento diversas vezes e mesmo sem condições teve que conseguir dinheiro para comprar.
“O governo fala tanto dessa farmácia, mas para nós ela não tem ajudado em muita coisa, já que vive faltando os medicamentos que precisamos. Acho essa situação uma completa falta de respeito com os cidadãos que dependem da saúde pública”.
Outro problema apontado por Adima é a burocratização na liberação de passagens para ir a São Paulo dar continuidade ao tratamento. Tendo que viajar para fora de Mato Grosso a cada três meses, ela conta que o Estado tem demorado muito tempo para dar retorno quanto à passagem do paciente.
“Início de dezembro tenho que ir para lá e até o momento não recebi a resposta do setor de Tratamento Fora de Domicílio (TFD). Espero não enfrentar os problemas que meus colegas têm passado nos últimos dias. Problemas estes que poderiam ser evitados, caso o transplante pudesse ser realizado aqui”.
Afastada pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) há três anos por causa da paralisação de um dos rins, Grisyane Machado, 29, já encontrou um doador compatível, seu pai. Mas ele mora em João Pessoa, na Paraíba, e ela terá que viajar para lá para poder realizar o transplante.
“Vou gastar um dinheiro que não tenho para poder manter a mim e a minha filha durante pelo menos um mês em outro estado. Se o procedimento fosse realizado aqui, os gastos seriam muito menores. Já que uma semana após a cirurgia ele (pai) poderia voltar para casa”.
Adilson Jesus Siqueira, 48, aposentado pelo INSS diz já não ter mais ânimo pela vida. Há oito anos ele aguarda na fila na esperança de conseguir um doador compatível. “Descobrimos que minha irmã era compatível, mas ela soube em seguida que estava gestante e decidimos adiar a cirurgia. E mesmo que ela não estivesse grávida, seria muito complicado irmos para São Paulo, pois são pelo menos três viagens até o transplante e não teríamos condições para isso”.
O jovem William Rodrigues, 25, também realiza hemodiálise há dois anos. E seu caso é mais complicado encontrar um doador na família, já que dois tios e o irmão já enfrentaram os mesmos problemas de saúde. “É um ponto a menos para mim, mas nem por isso penso em desistir. Já chegaram de ligar para mim informando que uma pessoa havia morrido e o rim era compatível com o meu. Mas na hora em que foram remover o órgão descobriram uma infecção que impedia o transplante”.