Uma pausa na fala e olhos marejados. Foi assim que o soldado do Corpo de Bombeiros, Jeovani Lázaro da Silva, 33, iniciou seu relato sobre o salvamento da bebê de 9 meses, no último dia 14 de setembro. O resgate da pequena Mariana aconteceu durante incêndio no edifício Sunset Boulevard, no bairro Araés, em Cuiabá.
O profissional, que possui 11 anos de carreira militar, contou emocionado como foi resgatar, pela primeira vez, uma criança tão pequena. Sargentos Antônio Ventura Morais Silva e Josymar de Oliveira Silva também integraram a equipe que salvou a família de Mariana, que residia em um dos apartamentos no 15º andar, e destacaram os detalhes para o êxito na operação.
Por volta das 9h deu-se início ao resgate da terceira família. A fumaça, densa e tóxica, já havia se alastrado pelo 15º andar e devido a isso os moradores não conseguiam deixar o apartamento. A decisão, tomada pelo comando do Corpo de Bombeiros, deixava claro que aquelas pessoas teriam que deixar o prédio pela sacada.
Para acessar o apartamento, a equipe formada por Josymar, Morais e Jeovani, teve apoio do Centro Integrado de Operações Aéreas (Ciopaer). O helicóptero transportou os três bombeiros e os demais equipamentos para realização de salvamento em altura. Ao analisar a situação, já no terraço do prédio, ficou constatado que os quatro moradores precisariam deixar o local por meio de rapel.
Dos três profissionais, sargento Morais ficou no terraço do edifício para comandar os cabos durante a descida de Jeovani e Josymar. O primeiro a descer foi o sargento Josymar. Devido à intensa fumaça, o bombeiro precisou se deslocar em posição negativa, ou seja, de cabeça para baixo, até chegar no 15º andar. “Como a fumaça estava muito forte, precisei utilizar a técnica em negativa, pois dessa forma conseguiria ver dentro das sacadas dos andares e saber se ali existiam pessoas que precisavam de salvamento”, explicou.
Após ver o casal, o menino de 7 anos e a bebê de 9 meses, Josymar entrou na sacada para aguardar Jeovani. Quando a dupla chegou ao local, os trabalhos foram iniciados. A família, segundo o sargento Josymar, estava bastante tensa com o modo em que ocorreria o salvamento. Para acalmá-los, os bombeiros fizeram algumas brincadeiras, conversaram com o grupo e explicaram que tudo estava sob controle. O primeiro a descer foi o garoto de 7 anos. Amarrado ao cabos e orientado sobre a descida, o menino realizou o procedimento adequadamente. Durante toda a descida, Josymar ordenou o equipamento e orientou o menor. No solo, uma equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) já aguardava o garoto para atendimento.
A segunda descida foi a da mãe. Conforme detalhou o sargento Josymar, ela também desceu com auxílio dos bombeiros e ao final recebeu atendimento médico. A ideia era fazer com que ela esperasse, já em solo, a filha de 9 meses, que seria a próxima a ser resgatada. Mariana, que ainda estava na companhia do pai, aguardava tranquilamente Josymar fazer as amarrações. No colo do pai, ela também foi preparada pela dupla de bombeiros. Com os nós e amarras adequadas, às 10h39 Mariana deixava a sacada do 15º andar.
O vídeo, gravado no celular de um dos bombeiros, mostra a tranquilidade da pequena. Jeovani conta que ao pegá-la, ela deu alguns resmungos, mas logo se aconchegou nos braços daquele que seria seu herói. A descida foi orientada e tranquila. No térreo, uma equipe do Samu já aguardava a menina com equipamentos de respiração, macas e demais itens de salvamento. O último a deixar o prédio foi o pai. Após o salvamento da bebê, uma equipe do Corpo de Bombeiros conseguiu acesso ao apartamento do 15º andar. Ele desceu pelas escadas, juntamente com os profissionais.
“Quando cheguei ao térreo me emocionei. Foi muito gratificante. Em 11 anos de serviço, nunca tinha tido oportunidade de realizar um resgate como aquele. Chegar com a criança lá em embaixo, sem nenhum arranhão. Depois que realizei a descida, me emocionei muito. Durante o trabalho, pensei nos meus filhos, sobrinhos. Foi muito emoção”, declarou Jeovani.
Profissão – De acordo com sargento Morais, a profissão de Bombeiros requer paciência. Ele destaca que o trabalho do grupo é, na maioria das vezes, em situações tensas e de risco. “Precisamos ser aqueles que passam a calmaria e coragem para os assistidos. Temos que colocar o profissionalismo em qualquer situação de resgate. Somos iguais a todos, temos sentimentos, mas somos treinados e sabemos lutar contra isso quando precisamos”.
Do grupo que realizou o salvamento da família do 15º andar, Jeovani é o mais jovem em relação ao tempo de carreira. Durante o curso de formação, o bombeiro conta que estagiou no setor de salvamento em altura e que mesmo antes de entrar na corporação já tinha apresso pela profissão. “Tenho um irmão que também faz parte do Corpo de Bombeiros. A admiração pelo trabalho desenvolvido foi o que nos motivou a prestar o concurso”.
Especialista em salvamento em alturas, Josymar tem consigo o espírito da corporação. Sempre em treinamento, ele conta que horas antes de seguir para o atendimento ao incêndio no edifício Sunset Boulevard, treinava amarrações e nós no pé de jaca que tem dentro da sede do 1º Batalhão do Corpo de Bombeiros de Cuiabá, o Batalhão Cacique. “Temos na profissão que o treinamento precisa ser diário. Além disso, a aplicação da técnica dos seis olhos, ou seja, aquela pela qual o grupo olha pela segurança do outro, está sempre presente”.