Fortaleza…
A assessoria de imprensa da CBF avisa aos jornalistas do mundo todo. Só terão acesso a 15 minutos de treinamento no CT Presidente Vargas, aqui no Ceará, hoje. A leitura é outra. Felipão só terá 45 minutos de direito de treino secreto para uma quartas de final de Copa do Mundo.
A Granja Comary em Teresópolis é péssima, ultrapassada. Atrapalha o Brasil de uma maneira absurda. Pergunto ao diretor de Comunicação da CBF, Rodrigo Paiva. “O Felipão não vai tirar o Brasil daqui? Levar para um CT perto para fazer um treino de duas horas secreto?” A resposta foi direta.
“Não há necessidade. O Felipão faz treinos secretos na cara de vocês. Ele faz várias formações e depois escolhe a que quer. A imprensa só fica sabendo na hora que o time vai entrar em campo.”
Assim está sendo durante a Copa toda. Mas o ápice foi ontem. O técnico fez um coletivo e teve pouquíssimo tempo para testar mudanças profundas na equipe. Foram menos de 15 minutos com o time sem um centroavante fixo, como a maioria das grandes equipes que restaram na Copa atua. Com Willian no lugar de Fred.
Também perto disso com o time atuando com três zagueiros. Colocando Henrique no time. Estratégia que Felipão havia adiantado na reunião com seus seis jornalistas de confiança. Fez Maicon de novo entrar na vaga de Daniel Alves, atuando fixo na direita.
Alterações radicais que mexem com toda a maneira de o Brasil se movimentar em campo. Mas que que puderam ser analisadas por 15 minutos. Talvez mais os 45 minutos de hoje. Incrível, inacreditável? Mas as coisas na Seleção seguem esse rumo.
Na maior parte do tempo, Felipão simplesmente colocou Paulinho na vaga de Luiz Gustavo, suspenso. Fernandinho como primeiro volante. E o Brasil treinou exatamente da mesma maneira que vem jogando a Copa do Mundo. Ou melhor: como atua desde a Copa das Confederações em 2013. Quatro zagueiros, dois volantes, três meias e um atacante fixo.
Não é por acaso que México e Chile conseguiram não só travar a Seleção como empatar os jogos. Seus treinadores sabiam exatamente que duas linhas de quatro jogadores conseguem tirar o oxigênio do time. Tirar centímetros de Neymar. O deixar encalacrado entre oito adversários.
Não adianta dourar a pílula. O Brasil é dependente demais do seu camisa 10. O argentino José Pékerman é tricampeão mundial sub-20. Treinador fascinado por estratégia. Montou a Colômbia muito leve, rápida quando está com a bola. Mas com grande poder para se proteger, fechar sua intermediária.
Sem sua principal estrela, Falcão Garcia, que não veio à Copa contundido, Pekérman faz do conjunto a força. James Rodríguez é o destaque. A referência é a interessante movimentação do time. Os colombianos atuam no 4-3-1-2. Durante o jogo, variam para o 3-5-2 com a posse de bola. Costumam variar ainda pressionando a saída de bola adversária. Apelando para o 3-3-4.
Nunca há menos do que dois atacantes na frente. Assim como não há menos do que quatro meio campistas fechando a intermediária. São três esquemas que variam durante 90 minutos. Foram treinados e executados à exaustão nos últimos dois anos.
Mesmo assim, os treinamentos colombianos foram fechados nesta Copa. Ninguém pode ver o que ele fez ontem na Universidade de Fortaleza. O CT impedia a presença de repórteres. E desta vez a TV Globo não mandou helicóptero como fez no treinamento chileno.
O contraste é inacreditável. O Brasil, país anfitrião da Copa do Mundo e cujo treinador e jogadores garantem que serão campeões, escancara a maneira com que vai jogar. E quando resolve mudar, tem apenas 45 minutos de verdadeira privacidade.
Como já escrevi quatrocentas e oitenta vezes, não há a menor possibilidade de fechar os treinamentos na Granja Comary. Os campos são cercados por condomínios e montanhas. Não há muros. Todos os treinamentos são acompanhados por torcedores que ficam gritando pelos jogadores. Além de arquibancada onde ficam cerca de cem convidados, espaço aberto para os patrocinadores.
Não chega a ser a esculhambação de Weggis, na Suíça, em 2006. Lá se cobravam ingressos dos treinos. Havia escolas de samba, passistas, prostitutas. Um carnaval. Mas a granja Comary não merece ser chamada de concentração.
O presidente Marin forçou o treinador a aceitá-la por uma questão política. Não quis deixar o Brasil em território do PT ou do PSDB. Haverá eleição presidencial em outubro e o dirigente não quis se arriscar, ficar do lado errado. Optou pelo que seria a neutralidade: Teresópolis, a Suíça tupiniquim.
A conquista da Copa das Confederações foi o argumento que deu tranquilidade para a escolha esdrúxula. Com mais de mil jornalistas todos os dias acompanhando os treinamentos. Sem restrição. Lógico com vários dos países adversários da Seleção. Não está descartado até a possibilidade de visita de espiões de treinadores. Tudo é escancarado de forma inaceitável para uma competição tão séria como a Copa do Mundo.
Que Felipão aproveite bem os seus 45 minutos de privacidade. Que tenha a sabedoria para usar cada um dos seus pouquíssimos minutos de isolamento com seu time. Busque uma maneira de surpreender os colombianos. Mesmo sem o mínimo de tempo de entrosamento.
O Brasil tem optado por um longo e estranho descanso de três dias sem atividade dos titulares após cada partida. Apesar de todas as equipes que disputam o Mundial, inclusive as europeias, terem jogadores desgastados, nenhuma delas treina tão pouco. Quanto menos treino, menos entrosamento. Menos possibilidade de testar novos posicionamentos.
Talvez a explicação para tanto sofrimento até as quartas de final vá além do lado psicológico. A parte técnica pura foi relegada. Por isso, os 67% de aproveitamento nos primeiros quatro jogos. Uma vitória contestada, contra a Croácia. Uma fácil diante de Camarões e dois empates desesperados, diante do México e Chile.
Meu amigo Alexandre Simões do jornal Hoje em Dia me avisa que é apenas a 14a campanha entre os anfitriões que chegaram até as quartas de final em uma Copa. Isso sem enfrentar um selecionado grande, tradicional.
Nada é por acaso no atual futebol moderno. O talento do jogador brasileiro e a loteria dos pênaltis em Belo Horizonte trouxe o Brasil até a partida de amanhã contra a Colômbia. O adversário ganhou seus quatro jogos, marcando 11 gols e sofrendo dois. Tem o artilheiro da competição, James Rodríguez com cinco gols. E não abdica do seu direito de treinar suas variações táticas escondidas, como recomenda o futebol moderno.
Para que Marin possa fazer política, Felipão tem de se virar com 45 minutos antes de cada jogo. Pela programação original, a situação continuará assim até a final. Isso se o Brasil conseguir chegar. Triste e inaceitável improviso justo de quem organiza a Copa do Mundo.
Fora o presidente abrir a concentração para programas da TV Globo. Uma ordem que Felipão teve de engolir. A determinação de Marin é que tudo fosse diferente do que a emissora passou nas mãos de Dunga na áfrica. Houve quatro reuniões antes do Mundial em que todos os detalhes foram acertados.
A CBF teve sete anos para escolher sua estratégia. E se priorizou a sobrevivência política do presidente da sua entidade a dar condições modernas e privacidade aos treinador e a seus jogadores. Essa é a selfie do Brasil…
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