Estudo indica que larvas da mosca podem ajudar a melhorar o estudo da evolução dos impulsos guiados pela recompensa
Pesquisadores da Universidade da Geórgia, nos EUA, identificaram as vias neurais no cérebro das moscas responsáveis por induzir o comer por prazer.
A descoberta lança luz sobre as vias que induzem o ‘ comer compulsivo’ no cérebro dos seres humanos.
“Nós sabemos que quando os insetos estão com fome, eles comem mais, tornam-se agressivos e estão dispostos a trabalhar mais para conseguir a comida. Pouco se sabe sobre a outra metade, a recompensa baseada no comportamento alimentar, quando o animal não está com tanta fome, mas ainda assim se animam sobre o alimento quando sentem o cheiro”, observa o pesquisador Ping Shen.
Segundo os pesquisadores, o fato de que um animal relativamente pequeno, uma larva de mosca, realmente desenvolve esta alimentação impulsiva com base em uma sugestão de recompensa foi uma surpresa.
Shen e seus colegas descobriram que apresentar alimentos com odores apetitosos a larvas de moscas de frutas já alimentadas causou alimentação impulsiva por alimentos ricos em açúcar. As descobertas sugerem que comer por prazer é um comportamento antigo e que as larvas da mosca podem ser usadas para estudar a neurobiologia e a evolução dos impulsos guiados pela recompensa.
Para testar comportamentos orientados pela recompensa em moscas, Shen introduziu odores apetitosos para grupos de larvas bem alimentados. Em todos os casos, as larvas já alimentadas consumiram cerca de 30% mais quando rodeadas pelos odores atrativos.
No entanto, quando eles ofereceram aos insetos uma refeição de baixa qualidade, eles se recusaram a comê-la. “Eles têm expectativas. Se reduzimos a concentração de açúcar abaixo de um limite, eles não respondem mais. Similares ao que vemos em seres humanos, se você se aproximar de um belo pedaço de bolo e prová-lo e determinar que ele é velho e horrível, você não fica mais interessado”, explica Shen.
A equipe também tentou definir melhor essa conexão entre emoção e expectativa. Eles descobriram que quando as larvas foram presenteadas com um odor breve, a quantidade de tempo que elas estavam dispostos a agir no impulso foi de cerca de 15 minutos.
“Após 15 minutos, elas voltam ao normal. Você fica animado, mas você não pode ficar animado para sempre, então, há um mecanismo para desligá-lo”, afirma Shen.
O trabalho também sugere que os neuropeptídeos ou produtos químicos do cérebro que agem como moléculas sinalizadoras desencadeantes do ‘ comer compulsivo’ , são consistentes entre moscas e seres humanos. Neurônios recebem estímulos e convertem em pensamentos que são então transmitidos para o mecanismo que diz aos animais como agir. Estas moléculas de sinalização são necessárias para este impulso, sugerindo que os detalhes moleculares destas funções são evolutivamente ligados entre moscas e seres humanos.
Segundo os pesquisadores, no modelo de mosca, quatro neurônios são responsáveis por retransmitir sinais do centro olfativo no cérebro para estimular a ação. Cada receptor de odor traduz a resposta de forma ligeiramente diferente. Disparadores humanos são obviamente mais diversos, mas o mecanismo de combinação é provavelmente o mesmo.
Shen está trabalhando agora em um modelo de computador para determinar como esses odores são interpretados como estímulos.
“Fazer dieta é difícil, especialmente no meio desta variedade de alimentos bonitos. É muito difícil controlar essa vontade impulsiva. Então, se entendermos como esse comportamento de comer compulsivamente acontece, nós talvez possamos encontrar uma maneira, pelo menos para o aspecto comportamental, de evitar isso. Podemos modular melhor os nossos comportamentos ou usar intervenções químicas para acalmar esses estímulos”, conclui Shen.