O ministro da Defesa do Governo boliviano, Carlos Romero, em entrevista ao portal Agência de Notícia Fides (http://www.noticiasfides.com/g/) , na quinta-feira (16), disse que pediu investigações imediatas sobre a revolta popular que resultou na morte de dois brasileiros, queimados vivos na cidade boliviana de San Mathias (a 185 km da fronteira com o Brasil).
“O Governo quer uma investigação para estabelecer os antecedentes criminais de ambos brasileiros e se eles tinham permissão para portar armas, se parte da transação das motos teve a participação de outras pessoas. Estamos de acordo para lançar a investigação. Caso tenham interesse na coordenação, as autoridades brasileiras, serão bem vindas”, disse o ministro.
A morte de dois brasileiros é uma reação que mostra a fragilidade de nossas instituições
Romero reconheceu que a cidade de San Mathias, apesar da presença de policiais, não tem efetivo suficiente para manter a ordem na região de fronteira. Uma das justificavas do ministro é que a grande extensão territorial – cerca de 800 km – propicia vários pontos descobertos, por onde entram cidadãos brasileiros, sem o conhecimento das autoridades bolivianas.
"Temos um prefeito lá, temos a presença da Polícia e do Exército, mas é uma área enorme, é um território com muitos pontos de entrada de cidadãos brasileiros. A presença do governo não é suficiente; a morte de dois brasileiros é uma reação que mostra a fragilidade de nossas instituições. O Judiciário praticamente não existe em San Mathias. Esse conflito será investigado pelo também Ministério Público", disse o ministro.
Carlos Romero disse, ainda, que esses fatos servem para refletir e para se buscar respostas estruturais para a situação das fronteiras em geral. Ele lembrou o assalto aos dois ônibus na cidade de Apollo, que também ocorreu em uma área vulnerável da fronteira.
Ele acrescentou que a Bolívia tem mais de sete mil quilômetros de fronteira, onde a população está envolvida em atividades de contrabando. Esse também seria um alerta para que as autoridades programem políticas de fronteira, que devem se concentrar em oportunidades de desenvolvimento socioeconômico do local.
Queimados vivos
Jefferson Max de Castro Lima, 22, e Rafael Dias, 27, foram queimados vivos após serem retirados à força da cela na qual estavam detidos, na delegacia da cidade de San Mathias.
Ministro Romero, no local das mortes, em San Mathias |
Segundo a Polícia boliviana, os dois rapazes teriam roubado duas motos, em território brasileiro, e as vendido na Bolívia.
Eles também foram acusados de assassinar a tiros os bolivianos Paraba Paulino Ramos, 33, Edgar Rojas Suarez, 26, e Costa Paraba Vanderley, 27.
Outros dois bolivianos ficaram feridos e teriam prestado depoimento à Polícia local, apresentando essa versão para o fato.
Sepultados na Bolívia
Conforme o MidiaNews informou, os corpos de Rafael e Jeferson Lima, que moravam em Várzea Grande, foram enterrados na quinta-feira (15), em covas rasas e como indigentes em solo boliviano.
A Polícia boliviana justificou o sepultamento em terras estrangeiras pelo fato de a cidade de San Mathias não possuir necrotério e não ter como manter os corpos conservados.
O sepultamento, sem a autorização do Governo brasileiro, pode gerar um impasse diplomático, uma vez que o Brasil e Bolívia possuem acordos de cooperação mútua.
O Itamaraty manifestou repudio às autoridades bolivianas pelas mortes brutais dos brasileiro. O Ministério das Relações Exteriores emitiu uma nota sobre o caso.
Policiais Militares do Gefron (Grupo Especializado de Fronteira) partiram, na noite de quarta-feira (15), da sede da unidade, em Porto Esperidião (326 km a Oeste de Cuiabá), para a cidade de San Mathias, na Bolívia – a 185 km de distância da cidade mato-grossense -, com a missão de fazer o translado dos corpos dos dois brasileiros.
Restos mortais
Os restos mortais dos dois brasileiros deverão chegar em Cuiabá na manhã desta sexta-feira (17), pois houve uma demora na entrega dos corpos por parte das autoridades bolivianas, segundo a Secretaria de Segurança Pública de Mato Grosso.
O que sobrou dos corpos foi desenterrado no início da tarde de quinta-feira (16), para ser trasladado para a Capital de Mato Grosso, por uma equipe do Instituto de Medicina Legal da cidade de Cáceres.
Segundo a Sesp, por causa da complexidade dos exames, estes deverão ser realizados no IML de Cuiabá, onde existem mais recursos, inclusive, o Laboratório de Exames Forense.
Os legistas do IML de Cuiabá deverão analisar o que restou dos dois corpos, para saber que tipo de exame é mais adequado para conseguir a identificação.
“O que pesou foi a complexidade dos exames, e também levamos em conta que os familiares moram em Várzea Grande”, informou um assessor do secretário Diógenes Curado.
A Sesp acrescentou que as famílias dos dois brasileiros já foram informadas do translado e deverão procurar o IML.