Um lance poderia ter mudado a trajetória do atacante Camanducaia no futebol. Com 20 anos, o jovem que carrega no apelido o nome da cidade onde nasceu, em Minas Gerais, despontava como revelação no time do Santos em 1995. Na final do Campeonato Brasileiro daquele ano, ele marcou, de cabeça, o gol que daria o título para o clube que celebra o centenário no sábado (14) , mas o lance foi equivocadamente anulado pelo árbitro Márcio Rezende de Freitas por impedimento.
Com o empate por 1 a 1, o Botafogo acabou sendo o campeão. O curioso é que os dois gols validados do jogo foram irregulares. O do time carioca por impedimento e o da equipe paulista por um toque de mão de Marquinhos Capixaba antes da finalização de Marcelo Passos.
Na ocasião, Camanducaia entraria para a história do Peixe como o autor do gol do primeiro título brasileiro do time de Pelé – em 2010, uma canetada do ex-presidente da CBF, Ricardo Teixeira, deu status de título brasileiro à Taça Brasil e ao Torneio Roberto Gomes Pedrosa, conquistados seis vezes pelo time.
Hoje, aos 36 anos, Camanducaia virou empresário no interior de Minas Gerais. Dono de uma escolinha de futebol na sua cidade natal e de uma pousada em Monte Verde (MG), ele lamenta a decisão do árbitro e diz que isso mudou o seu destino no futebol.
– Eu era novo, a torcida do Santos gostava de mim. O gol do título teria me dado mais projeção. Eu poderia ter ido para a seleção brasileira.
Após sair do Santos, Camanducaia perambulou por times menores, como o Marília e Ipatinga e encerrou a carreira no Santo André, em 2011.
Leia a seguir a entrevista com Camanducaia:
R7- A anulação daquele gol no Campeonato Brasileiro de 1995 te tirou a chance entrar para a história do Santos?
Camanducaia – O curioso desse lance é que o bandeira não marcou nada. O Márcio Rezende foi quem assumiu a responsabilidade e deu impedimento. Infelizmente ele nos tirou a chance de entrar para a história. Eu e todo aquele time.
R7- Você guarda mágoa do árbitro por causa desse lance?
Camanducaia – Não guardo mágoa nenhuma. São coisas que acontecem no futebol. Houve erros em outras decisões também. A forma como aconteceu é que foi muito cruel. Os dois gols ilegais foram dados. Só o meu, que foi legítimo, não valeu.
Mas aquilo me prejudicou muito. Estava com 20 anos e poderia ter ganhado um impulso na minha carreira. Ido até para a seleção brasileira, quem sabe.
Hoje, prefiro olhar as coisas que aconteceram comigo pelo lado positivo. Saí do interior de Minas Gerais, de uma cidade de 20 mil habitantes e tive sucesso no futebol levando o nome da minha cidade. Tudo isso me enche de orgulho.
R7- Agora que já parou de jogar, o que você tem feito?
Camanducaia – Eu tenho uma pousada em Monte Verde (MG) e uma escolinha de futebol aqui em Camanducaia, com crianças a partir dos 4 anos. Quero, no futuro, levar algumas delas para fazer testes no Santos aproveitando os contatos que ainda tenho por lá.
R7- Você dá aula para a garotada?
Camanducaia – Na verdade, eu fico mais na administração da escolinha. Mas, quando tenho a oportunidade, tento passar alguns ensinamentos para os alunos. Não apenas sobre o futebol, mas sobre a vida de maneira geral.
R7- Você pensa em trabalhar mais diretamente com o futebol?
Camanducaia – Sim, eu até já tirei o meu registro no Conselho Regional de Educação Física, mas acho que preciso me preparar melhor para assumir primeiramente uma função de auxiliar e depois virar técnico. É o que eu sei fazer. Com 36 anos, eu até teria condições de estar jogando ainda.
R7- Com a geração atual de Neymar e Ganso, o Santos conseguiu retomar a rotina de títulos importantes. Isso poderia ter acontecido antes se quele time tivesse conquistado o Brasileirão de 1995?
Camanducaia – Talvez, mas acho que esse time atual não tem comparação. Eles ganharam a Copa do Brasil, dois Paulistas e a Libertadores.
Tudo isso que está acontecendo é mérito do atual presidente [ Luis Álvaro de Oliveira]. Ele é uma pessoa inteligente e se esforçou para segurar os principais jogadores do time. Ele buscou patrocinadores para bancar a permanência do Neymar. O que está acontecendo não é por acaso.
Em 1995, o time foi formado com jogadores experientes, como o [volante] Gallo e jogadores pouco conhecidos, como o Giovanni, mas durou pouco. Logo o Giovanni foi para o Barcelona. Ninguém se esforçou para segurá-lo.
Hoje, o Santos é um clube modelo.
R7- O que significou para você ter jogado no Santos?
Camanducaia – Sou grato ao clube. Tudo o que tenho e o que acumulei, eu devo ao Santos. Cheguei muito novo ao clube e lá foi minha casa. As pessoas com quem convivi, formaram a minha segunda família.