Acusado de comandar um esquema de pagamento de propina para caciques do Partido da República (PR), em troca de contratos de obras do Governo Federal, o presidente nacional da sigla, deputado federal Valdemar Costa Neto (SP), usava o gabinete do diretor do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), Luiz Antonio Pagot, para discutir superfaturamento de preços e o que se convencionou classificar de "pedágio político".
Na reportagem em que denunciou a existência do esquema no Ministério dos Transportes, a revista Veja aponta para a existência de uma "gestão paralela nada republicana em Brasília". "A engrenagem é azeitada pelo PR (…), que dá as cartas no ministério. Por seus mecanismos e fins, o esquema do PR parece um clone do grande escândalo do Governo Lula, o Mensalão", diz a publicação, citando depoimentos de parlamentares, assessores presidenciais, policiais e empresários.
A revista afirma que Valdemar Costa Neto é quem decide as indicações para cargos no Ministério dos Transportes. "No universo paralelo, é também quem escolhe as empresas com direito a executar os projetos e as obras. Valdemar despacha no próprio ministério", diz a reportagem.
Segundo Veja, no dia 4 de maio passado, o deputado se reuniu à tarde com representantes de 15 empresas de consultoria, na sala do diretor-geral do DNIT, Luiz Antonio Pagot. O deputado, por não ter cargos, não poderia estar alí. Mas, ele nem se deu ao trabalho de explicar sua presença na reunião, que foi feita com o objetivo de discutir obras em 12.000 quilômetros de rodovias federais, negócio estimado entre R$ 6 bilhões e R$ 7 bilhões.
Conforme a denúncia, na reunião, os membros do PR alertaram os presentes de que as obras só sairiam do papel se as consultorias "aperfeiçoassem" os projetos, adequando as propostas às exigências do TCU. Diante do alerta, Pagot teria feito uma preleção, observando que estava em jogo não apenas uma questão técnica, mas "uma missão partidária".
Segundo Veja, "o apadrinhado de Blairo Maggi" recomendou que o PR teria de deixar como legado de sua passagem pelo ministério uma efetiva e perceptível melhoria no estado de conservação das rodovias brasileiras. Para a revista, tudo estaria perfeito, se não houvesse "uma sombria realidade dos negócios". A cúpula do PR, em comum acordo com a cúpula do Ministério dos Transportes, exigiria 5% das consultorias (1% a mais do que o pedido às empreiteiras) e quem não pagasse, estaria fora do esquema.
Entenda o caso
No sábado (2), a presidente Dilma Rousseff decidiu afastar do cargo os representantes do Ministério dos Transportes envolvidos em denúncia apontada na matéria de Veja. A reportagem revela um esquema de pagamento de propina para caciques do PR, em troca de contratos de obras.
Dilma conversou com o ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, ainda no sábado, e acertou o afastamento dos envolvidos.
São eles: Mauro Barbosa da Silva, chefe de gabinete do ministro; Luís Tito Bonvini, assessor do gabinete do ministro; Luís Antônio Pagot, diretor-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT); e José Francisco das Neves, diretor-presidente da Valec.
O desligamento dos funcionários será formalizado a partir da próxima segunda-feira (4), pela Casa Civil.
"Para garantir o pleno andamento da apuração e a efetiva comprovação dos fatos imputados aos dirigentes do órgão, os servidores citados pela reportagem serão afastados de seus cargos, em caráter preventivo e até a conclusão das investigações", disse o Ministério dos Transportes, em nota.
Outro lado
O diretor-geral afastado do DNIT, Luiz Antonio Pagot, não atendeu às ligações do MidiaNews para seu telefone celular. Ele deve dar uma entrevista coletiva, em Brasília, na segunda-feira (4).