O que já se configurava uma barbada daquelas se confirmou no palco da 10ª edição do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro: o longa-metragem de açãoTropa de Elite 2 foi o grande vencedor do nosso Oscar, faturando nove dos 16 troféus a que concorria, nesta terça-feira (31) à noite de gala da Sétima Arte, no Teatro João Caetano, no Centro do Rio.
A extensa lista de prêmios Grande Otelo – melhor som, montagem, direção de fotografia, ator coadjuvante para André Mattos, roteiro original, ator para Wagner Moura (que não prestigiou a festa por estar filmando em Paulínia), direção para José Padilha e longa-metragem de ficção duas vezes (júri e voto popular) – fez o cineasta (de gorro e sem o traje black-tie exigido) subir tantas vezes no palco que, na hora de receber o de direção, ele brincou.
– Não tenho mais nada para falar! [risos] Adorei todos os filmes concorrentes. Foram grandes direções. Mas este é um prêmio especial para mim. É um prêmio para o público também. O mercado de cinema cresceu 30% no Brasil em 2010, enquanto lá fora está caindo.
Falando nos rivais, o longa-metragem Chico Xavier – que também tinha 16 indicações – saiu da premiação promovida pela Academia Brasileira de Cinema com apenas três deles: maquiagem, atriz coadjuvante para Cássia Kiss (outra ausência sentida), e roteiro adaptado.
A categoria melhor ator coajuvante deu em empate, com André Mattos divindo seu prêmio com Caio Blat, por sua atuação no filme As Melhores Coisas do Mundo. A melhor atriz foi Gloria Pires, que agradeceu, emocionada, o troféu.
– Que surpresa! Que honra! É uma noite especial para mim pois homenageia Lucy e Luiz Carlos Barreto, minha família do cinema. Quero agradecer ainda a minha família, meu pai, meu norte. Obrigada a todos!
Comemorando 50 anos de trabalho conjunto, o casal Lucy e Luiz Carlos Barreto foi laureado com o Prêmio Eleonora de Martino. Eles foram aplaudidos de pé. Em seu discurso de agradecimento, Barretão – como Luiz Carlos é conhecido – lembrou seu começo no cinema, como roteirista de Assalto ao Trem Pagador (1962) e fotógrafo – por acaso – em Vidas Secas (1963) e também brincou.
– A Academia deveria ter feito seguro de vida pois é um sofrimento esta emoção. É uma alegria muito grande para um cearense de 83 anos. Estou feliz pelo fato de o cinema brasileiro estar vivendo um momento excepcional, que sempre devia e sempre ocupou. Temos um cinema plural, com vigor, representando nossa cultura.
Barretão aproveitou para alfinetar Hollywood.
– O cinema americano faz videogame atualmente. Aqui fazemos um cinema humanista.
O momento emoção continuou em outras duas homenagens surpresa. Norma Bengell, de 76 anos e numa cadeira de rodas depois de duas quedas, foi às lágrimas quando entrou no palco e recebeu um troféu das mãos de Marieta Severo.
– Eu amo vocês. Muito obrigada! Queria ficar de pé para agradecer. Não saio de casa há oito meses!
O pedido foi aceito e, com ajuda de Marieta e dos apresentadores da noite, Bruno Mazzeo e Fabíula Nascimento, a atriz – a primeira a fazer nu frontal no cinema no filme Os Cafajestes (1962) – conseguiu realizar sua vontade, recebida também de pé pela plateia que lotou o João Caetano.
Remo Usai, autor de mais de 120 trilhas sonoras para cinema, também recebeu uma láurea especial.
– Estou muito emocionado. Estranhei ouvir uma música minha, de 20, 30 anos atrás como fundo. Muito obrigado a todos.